O grande Galeno, um proeminente médico grego no Império Romano, a certa altura sofreu a perda de toda a sua obra e livros. Em um exemplo claro do que podemos chamar de uma resposta estóica virtuosa, ele escreveu que “o fato de que, após a perda da totalidade de meus remédios farmacêuticos, a totalidade de meus livros, bem como essas receitas de remédios respeitáveis, bem como as várias edições que escrevi sobre eles, além de tantas outras obras, cada uma delas exibindo aquele amor ao trabalho que foi meu a vida inteira; o fato de não ter sentido dor mostra, em primeiro lugar, a nobreza de meu comportamento e minha grandeza de alma”.

Se ao menos pudéssemos exibir o mesmo comportamento diante de uma perda tão dramática! Como seus tempos foram marcados por guerras perpétuas e desastres naturais, Galeno certamente não foi o único dos antigos que sofreu tal perda. Zenão, o próprio fundador do estoicismo, experimentou uma e em uma reviravolta surpreendente, é o que o colocou no caminho da filosofia.

Em uma viagem entre a Fenícia e Pireu, seu navio afundou junto com sua carga. Zenão acabou em Atenas e, ao visitar uma livraria, conheceu a filosofia de Sócrates e, mais tarde, de um filósofo ateniense chamado Crates. Essas influências mudaram drasticamente o curso de sua vida, levando-o a desenvolver o pensamento e os princípios que hoje conhecemos como estoicismo. De acordo com o antigo biógrafo Diógenes Laércio, Zenão brincou: “Agora que sofri um naufrágio, estou em uma boa jornada”, ou de acordo com outro relato: “Você fez bem, Fortuna, conduzindo-me assim à filosofia, ” ele teria dito.

Zenão começou seus ensinamentos no Stoa Poikile, localizado na Antiga Ágora de Atenas. Esta é a famosa varanda que deu nome ao estoicismo e que você provavelmente se lembra de ter mencionado brevemente em sua aula de filosofia no ensino médio ou na faculdade. Mas o nome nem sempre foi esse – na verdade, inicialmente seus discípulos eram chamados de zenonianos, mas só mais tarde passaram a ser conhecidos como estóicos.

É claro que o estoicismo se desenvolveu desde que Zenão esboçou a filosofia pela primeira vez, mas no fundo, a mensagem é a mesma. Como ele disse, “Felicidade é um bom fluxo de vida”. Como isso pode ser alcançado? Paz de espírito que vem de viver uma vida de virtude de acordo com a razão e a natureza.

Após sua morte, os atenienses homenagearam Zenão com uma estátua de bronze e o seguinte decreto foi aprovado na cidade – exaltando um homem que foi um verdadeiro exemplo que podemos admirar hoje:

“Considerando que Zenão de Cítio, filho de Mnaseas, por muitos anos se dedicou à filosofia na cidade e continuou a ser um homem valioso em todos os outros aspectos, exortando à virtude e à temperança os jovens que o procuram para serem ensinado, orientando-os para o que é melhor, dando a todos em sua própria conduta um padrão de imitação em perfeita consistência com seu ensinamento, pareceu bem ao povo – e pode resultar bem – elogiar Zenão de Cítio, o filho de Mnaseas, e coroá-lo com uma coroa de ouro de acordo com a lei, por sua bondade e temperança, e construir para ele uma tumba no Ceramicus a custo público…”