Summum Bonum: (O Bem Maior) Uma Introdução às 4 Virtudes Estoicas

Summum Bonum

O que é Summum Bonum?

Summum Bonum é uma expressão de Cícero, o maior orador de Roma. Em latim, significa “o bem maior”.

E qual é o bem maior? O que devemos almejar nesta vida?

Para os estóicos, a resposta é a virtudeEles disseram que tudo o que enfrentamos na vida é uma oportunidade de responder com virtude. Mesmo situações ruins. Mesmo as situações dolorosas ou assustadoras. Se agirmos virtuosamente, eles acreditavam, tudo de mais importante poderia acontecer: felicidade, sucesso, significado, reputação, honra, amor. “O homem que tem virtude”, disse Cícero, “não precisa de nada para viver bem”.

Os estóicos não afirmavam que esse caminho fosse fácil, ou que sempre seria reconhecido ou apreciado por aqueles mais próximos de nós, apenas que era essencial. E que a alternativa – pegar o caminho mais fácil ou o atalho mesmo que antiético ou imoral – era cogitada apenas por covardes e tolos.

Como Marco Aurélio escreve em Meditações,

“Apenas faça a coisa certa. O resto não importa. Frio ou quente. Cansado ou bem descansado. Desprezado ou honrado. Morrendo… ou ocupado com outras tarefas.”

 

As Quatro Virtudes Estoicas

Certo, mas o que é virtude? Os estóicos acreditavam que haviam quatro virtudes:

Sabedoria

Coragem

Temperança

Justiça

Vejamos cada uma:

SABEDORIA

“A principal tarefa da vida é simplesmente esta: identificar e separar assuntos para que eu possa dizer claramente a mim mesmo quais são externos que não estão sob meu controle e quais têm a ver com as escolhas que eu realmente controlo. Onde então procuro o bem e o mal? Não para coisas externas incontroláveis, mas dentro de mim para as escolhas que são minhas” – Epicteto

É o significado da filosofia: o amor pela sabedoria. Nas Vidas dos Eminentes Filósofos de Diógenes Laércio, ele escreveu sobre os estóicos, “sabedoria que eles definem como o conhecimento das coisas boas e más e do que não é bom nem mau… conhecimento do que devemos escolher, do que devemos ter cuidado de, e o que é indiferente.”

Depois de ter esse conhecimento, a sabedoria finalmente informa a ação. Viktor Frankl disse: 

“Entre o estímulo e a resposta existe um espaço. Nesse espaço está nosso poder de escolher nossa resposta.” 

Nesse espaço está a oportunidade da sabedoria. Reconhecer esse espaço é o primeiro passo. Esse espaço é onde pegamos as lições de nossa leitura e as aplicamos ou as jogamos pela janela e agimos de forma impulsiva e irracional.

Sabedoria é aproveitar o que a filosofia ensina e manejá-la no mundo real. Como disse Sêneca: “Ações, não palavras”.

TEMPERANÇA

“’Se você procura tranquilidade, faça menos’. Ou (mais precisamente) faça o que é essencial – o que o logos de um ser social exige, e da maneira necessária. O que traz uma dupla satisfação: fazer menos, melhor. Porque a maior parte do que dizemos e fazemos não é essencial. Se você conseguir eliminá-lo, terá mais tempo e mais tranquilidade. Pergunte a si mesmo a cada momento: ‘Isso é necessário?’ ”- Marco Aurelio, Meditações, 4.24

Aristóteles o chama de “meio-termo”, o que explica que a virtude se encontra firmemente no meio, entre o excesso e a deficiência. Excesso e desejos são sinônimos de descontentamento e insatisfação. Eles são um impulso autodestrutivo.

Epicteto disse: 

“Controle seu desejo – não coloque seu coração em tantas coisas e você obterá o que precisa.” 

E Sêneca disse: 

“Você pergunta qual é o limite adequado para a riqueza de uma pessoa? Primeiro, ter o essencial e, segundo, ter o suficiente”.

A temperança é o conhecimento de que a abundância vem de ter o que é essencial. Os estóicos costumavam usar temperança de forma intercambiável com “autocontrole”. Autocontrole, não apenas em relação aos bens materiais, mas autocontrole, harmonia e boa disciplina sempre – no prazer ou na dor, na admiração ou no desprezo, no fracasso ou no triunfo. A temperança é resguardada contra os extremos, não contando com a fugacidade do prazer para a felicidade, nem permitindo que a fugacidade da dor a destrua.

CORAGEM

“Você não sabe que a vida é como uma campanha militar? Um deve servir de vigia, outro em reconhecimento, outro na linha de frente. . . . Assim é para nós – a vida de cada pessoa é uma espécie de batalha, e também longa e variada. Você deve vigiar como um soldado e fazer tudo o que for ordenado. . . . Você foi colocado em um posto-chave, não em um lugar humilde, e não por um curto período de tempo, mas por toda a vida”. — Epicteto

Uma vez perguntaram a Epicteto quais palavras ajudariam uma pessoa a prosperar. “Duas palavras devem ser memorizadas e obedecidas”, disse ele, “persistir e resistir”.

É o símbolo atemporal do estoicismo – o cavaleiro solitário travando uma guerra que não pode esperar vencer, mas lutando com bravura e honra mesmo assim. É Thrasea desafiando Nero, mesmo que o desafio lhe custe a vida e não consiga detê-lo. É Marco Aurélio lutando para não se deixar corromper pelo poder absoluto, para ser um homem bom mesmo diante da decadência e declínio de Roma. É a família Percy – os grandes estóicos do sul – geração após geração: LeRoy lutando contra a Klan em 1922. Walker Percy resistindo à crescente onda de racismo e ódio que consumiu sua geração, tentando ser calmo e filosófico em meio a tudo isso, para ser um farol silencioso de bondade por meio de sua escrita. É Publius Rutilius Rufus, enfrentando falsas acusações e uma acusação injusta para, em última análise, ser uma força inspiradora de mudanças contra a corrupção. São as últimas palavras de Sêneca para um tirano enlouquecido: 

“Nero pode me matar, mas não pode me ferir”.

Cada luta, mesmo que um tanto fútil, exigia uma enorme quantidade de coragem. Cada um exigia resistir ao conforto do status quo e chegar ao seu próprio julgamento.

Thrasea teve que arriscar o pescoço – literalmente – quando colocou os holofotes na tirania de Nero e os perdeu como resultado. Os Percys arriscaram seu lugar em sua comunidade e sua própria segurança em várias ocasiões para defender os direitos de seus concidadãos. Marco Aurélio poderia ter se perdido no esquecimento e no poder, mas em vez disso travou uma batalha ao longo da vida contra si mesmo, dentro de si mesmo, para melhorar e ajudar os outros.

Isso é coragem estóica. Coragem para enfrentar o infortúnio. Coragem para enfrentar a morte. Coragem para se arriscar pelo bem do próximo. Coragem para manter seus princípios, mesmo quando os outros se safam ou são recompensados por desconsiderar os deles. Coragem para falar o que pensa e insistir na verdade.

JUSTIÇA

“E um compromisso com a justiça em seus próprios atos. O que significa: pensamento e ação resultando no bem comum. O que você nasceu para fazer.” — Marco Aurélio, Meditações, 9.31

Das Quatro Virtudes Estoicas, Marco Aurélio disse que a justiça era a mais importante. Para ele, era “a fonte de todas as outras virtudes”. Afinal, quão impressionante é a coragem se for apenas sobre interesse próprio? De que serve a sabedoria se não for usada para o mundo inteiro?

Para entender a virtude da justiça, devemos olhar para Cícero – que concordava com Marco Aurélio que “a justiça é a coroa de glória das virtudes”. Abrimos com a expressão Summum Bonum de Cícero. Mas mais do que uma expressão, em seu tempo e ao longo da história, Cícero foi respeitado por viver essas palavras. John Adams disse: “Todas as eras do mundo não produziram um estadista e um filósofo maiores combinados” do que Cícero. Thomas Jefferson disse que a Declaração de Independência foi baseada nos “livros elementares de direito público, como Aristóteles, Cícero, Locke, Sidney, etc.”

Embora Cícero fosse um senador romano e ocupasse todos os cargos romanos importantes nas idades mais jovens legalmente permitidas, ele e os outros estóicos não consideravam a justiça no sentido legal, como costumamos usar hoje. Para eles, estava no escopo muito mais amplo de nossas interações e deveres para com nossos semelhantes.

Foi em De Officiis (Sobre os deveres morais) – seu estudo abrangente e escrita do sistema ético dos estóicos de seu tempo – onde Cícero apresentou pela primeira vez as quatro virtudes estóicas. A justiça, explica, é “o princípio que constitui o vínculo da sociedade humana e de uma comunidade virtual de vida”. A longa descrição continuada pode ser resumida:

Que ninguém faça mal ao outro.
Que se use os bens comuns como comuns; privados como pertencentes a seus donos.
Não nascemos apenas para nós.
Os homens foram criados por causa dos homens, para que pudessem fazer o bem uns aos outros.
Devemos seguir a natureza como um guia, para contribuir com nossa parte para o bem comum.
Boa fé, firmeza e verdade.
É útil, diz ele, considerar o que significa agir injustamente. Simples: qualquer coisa que cause dano ou prejudique outro ser. “Na maioria das vezes”, explica Cícero, “os homens são induzidos a prejudicar os outros para obter o que cobiçam”.

É talvez a ideia mais radical de todo o estoicismo: Sympatheia – a crença na interdependência mútua entre tudo no universo, de que somos todos um. É fortemente enfatizado em todos os textos estóicos. 

“O que prejudica a colmeia prejudica a abelha” — Marco Aurélio.

O filósofo favorito de Marco, o professor estóico Epicteto, disse:

“Buscar o que há de melhor em nós mesmos significa cuidar ativamente do bem-estar de outros seres humanos”.

E o professor de Epicteto, Musonius Rufus, disse: “honrar a igualdade, querer fazer o bem, e para uma pessoa, sendo humana, não querer prejudicar os seres humanos – esta é a lição mais honrosa e torna as pessoas justas aqueles que o aprendem.”

Como o autor best-seller, Robert Greene disse em nossa entrevista com ele sobre seu novo livro As Leis da Natureza Humana: “Somos todos iguais. Os estóicos falam sobre isso. É o logos. É o que une tudo.”

***

A virtude é como vivemos vidas felizes e livres. Não é grandioso nem vago. Os estóicos evitam a complexidade e adoram a simplicidade.

Se descrevêssemos o estoicismo em uma frase, seria esta: um estóico acredita que não controla o mundo ao seu redor, apenas como ele reage – e que deve sempre responder com coragem, temperança, sabedoria e justiça.

A vida é imprevisível. Há tanta coisa sobre a qual não temos controle. Isso pode ser esmagador e incapacitante ou pode ser libertador. A virtude é como asseguramos o posterior. Aconteça o que acontecer, sempre temos a capacidade de usar a razão e fazer escolhas. Devemos sempre tentar fazer a coisa certa. Deixar que a virtude nos guie. É tudo o que controlamos. Deixe o resto cuidar de si mesmo, com ou sem o seu consentimento.

Vou deixar você com esta entrada de Meditações de Marco Aurélio,

“Se, em algum momento de sua vida, você se deparar com algo melhor do que justiça, prudência, autocontrole, coragem – do que uma mente satisfeita por ter conseguido capacitá-lo a agir racionalmente e satisfeita por aceitar o que está além de seu controle — se você encontrar algo melhor do que isso, abrace-o sem reservas — deve ser algo realmente extraordinário — e aproveite ao máximo.
Mas se nada se apresenta superior ao espírito que vive dentro dele – aquele que subordinou a si os desejos individuais, que discrimina entre as impressões, que se libertou das tentações físicas e se subordinou aos deuses, e cuida dos seres humanos ‘ bem-estar – se você achar que não há nada mais importante ou valioso do que isso, não abra espaço para nada além disso.

Para os antigos, se deixarmos a virtude liderar o caminho, cada passo que dermos será seguro. Na mitologia grega, Arete era a deusa da virtude. O modelo para seguirmos – a personificação dessa ideia de fazer e viver bem.

 

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